1.10.07

Trecho 01

No mínimo, curioso. E também dá muito o que pensar...

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"Heloísa é uma conquista mais a acrescentar às da inteligência. E é antes de mais um assunto de cabeça como dos sentidos. Sabe da existência da sobrinha de um confrade seu, o cônego Fulbert: tem 17 anos, é bonita e tão culta que a sua ciência se torna já célebre em toda a França. É a mulher de que precisa. Não suportaria uma pateta; também lhe agrada que tenha boa aparência. Por uma questão de gosto e de prestígio. Friamente, elabora um plano que resulta para lá de todas as expectativas. O cônego confia-lhe a jovem Heloísa como aluna, lisonjeado por lhe encontrar tal mestre. Quando falam de salário, Abelardo não tem dificuldades em fazer aceitar pelo econômico Fulbert um pagamento em gêneros: teto e alimentação. O diabo espreita. Entre o mestre e a aluna foi o amor à primeira vista: comércio intelectual, em breve comércio carnal. Abelardo, com o diabo no corpo, abandona o ensino, os trabalhos. A aventura arrasta-se, aprofunda-se. Nasce um amor que nunca mais terminará. Resistirá às contrariedades e depois ao drama."


(LE GOFF, Jacques. Os intelectuais na idade média. Lisboa, Gradiva Publicações: 1984. p. 55s.)