Eu Diria Isso

21.4.06

Leitura e Conhecimento

Existem tantos mitos em torno da leitura quanto moscas em volta da carniça. Isso sem tratar das relações da construção do texto em si

1) Ler não quer dizer 'entender'. O fato de uma pessoa ter lido este ou aquele autor não significa que ela tenha entendido qualquer coisa do que ese trata o texto. E quando digo 'entender', não me refiro a 'captar as intenções secretas do autor' ou 'decodificar as metáforas' ou qualquer coisa do gênero. 'Não-entender' quer dizer que o leitor não tem familiaridade com os termos ou o assunto tratado. Muitas palavras pode não ter absolutamente nenhum significado, embora ela parece coerente em seu contexto. Um leigo que leia 'ordenamento jurídico' ou 'sintagma nominal' pode apenas supor o significado destas expressões, correndo o risco de falsas interpretações. E não é só uam questão de 'áreas do conhecimento'. Mesmo dentro de sua especialidade, o leitor pode se perder se não souber os porquês do autor. O resultado disso tudo é que tira-se conclusões que definitivamente não estão no texto. Ou então ignora-se as conclusões óbvias do mesmo.

2) Ler não quer dizer 'criticar'. O fato de uma pessoa ter lido uma reportagem de jornal, uma coluna ou artigo não significa que ela tenha refletido sobre o que leu. Reconhecer os 'postos' é diferente de reconhecer os 'pressupostos'. Podemos afirmar que existem dois níveis de leitura então. Um, sobre aquilo que está explícito. O outro, sobre o implícito. Hoje em dia, muitos riem dos antigos (nem tão antigos assim) dogmas da igreja impregnados nos discursos religioso-políticos. Mas, irtonicamente, essas mesmas pessoas lêem jornalismo semanal com a testa franzida.

3) Ler não quer dizer 'aprender'. O fato de uma pessoa ter lido sobre qualquer assunto não significa que ela tenha incorporado aquilo em sua bagagem cultural. É comum conversarmos com os amigos sobre algo interessante que vimos no jornal ou em uma revista. Isso ainda não indica que apreendemos o conteúdo do texto, pois essa é uma leitura apenas de significante. Somos capaz de reproduzir verbalmente para os amigos o que o texto dizia, mas não o que ele quis dizer. Também, muitas vezes o texto não tem qualquer relação com o horizonte cultural do leitor. Um cidadão qualquer esquecerá com muita facilidade um artigo técnico de economia, ainda que esse denote algo importante para a vida dos não-economistas. O mesmo exemplo encontramos na escola, quando crianças de 11 ou 12 anos são 'obrigadas' a ler Machado de Assis ou literaturas psicologistas. Resumindo, esse problema vem de uma leitura feita do significante apenas.

4) Ler não quer dizer 'saber'. O fato de uma pessoa ler livros não significa que ela seja instruída. E o contrário também acontece: o fato de uma pessoa não ler livros não quer dizer que ela seja ignorante. Até porque, a leitura (palavra tomada aqui no sentido mais amplo) é um aspecto cultural das sociedades alfabéticas. Além disso, também um aspecto ideológico. Não só pela questão do acesso aos livros, o problema vai além. Livros não são sinônimo de conhecimento, e é aí que está a falácia ideológica. A cultura livresca, e, ampliando ainda mais, a cultura ecrita carrega apenas uma modalidade de conhecimento. Senão como justificar a habilidade de um pedreiro em medir as quantidades de material sem sequer ter lido nada sobre construção civil? Ou então dos boiadeiros e agricultores que são capazes de avaliar com precisão a previsão do tempo? Habilidades essas que um erudito dificilmente apresentará. Um grande romancista não entende nada de repente e o repentista não sabe sequer ler/escrever. São modalidades de conhecimento diferentes.

5) Ler é uma experiência virtualizada. Isso é bom e ruim. O bom é que podemos tomar conhecimento de outras realidades e "mundos possíveis" (das palavras de Jonathan Culler). O ruim é que a experiência é somente uma simulação. Além de não aprendermos de fato com isso (da forma como aconteceria com uma experiência de vida factual, pragmática), não há como medir a veracidade de um texto, seja qual for o seu gênero. Ele pode ter uma coerência interna perfeita, mas ser absolutamente falso.

13.4.06

Inaugurando...

Ae galera,

Post inicial, apresentando o nosso blog.
Consiste em uma página destinada a discutir temas em humanidades como filosofia, política, linguística, direito, falar merda, enfim.... o objetivo eh criar uma dialética nesse universo.
Dentro de dias estaremos postando algumas ideias

Objetivo desse post: Fazer alguem se mexer...porra... meses q tamo falando nisso e nada...huahuahau

Abraço a todos.