Eu Diria Isso

3.12.06

¿Alguma anotação sobre crítica literária¿

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Crítica é coisa de leitor, e não de escritor. Quando o escritor começa a fazer crítica, metamorfoseia-se em redator. Sem falar que, disso tudo aí, pouquíssimos chegam ao nível de 'autor'. Mas não há de se negar que o crítico ganha muito mais que o escritor.

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Crítica funciona p/ refletir as visões (inclusive contemporânea à obra) dadas a um texto. Por isso que Estética da Recepção (Hans R. Jauss) é uma das únicas coisas que ainda prestam. Hermenêutica é uma das coisas mais ridículas que já inventaram. Análise psicanalítica alucina de uma maneira inacreditável, bem melhor do que ácido. Estilística é patético, visto que aquilo tudo não faz o menor sentido pra não-falantes daquela língua (até mesmo daquele idioleto) específico.

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Pensando melhor, qualquer crítica é patética se consideramos que a literatura está restrita aos falantes de determinado idioma. Aí é que vem mais um palhaço pro picadeiro: o tradutor literário.

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Mas essa idéia de 'literatura vale pelo prazer' também soa uma das mais absurdas. Tende para o hedonismo, e só a menor possibilidade disso já é aterrorizante. Até por isso a crítica funciona como parâmetro básico (apesar de na maioria dasvezes complexo) de julgamento de valor.

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Um dos piores (só um? hahaha) problemas da crítica é justamente a falta de critérios definidos, por irônico que o jogo de palavras seja. Os críticos não têm o menor consenso sobre a sua própria metalinguagem, de modo que termos como sujeito, lirismo, poética, foco narrativo, linguagem figurada tenham as mais variadas significações, tanto sincronicamente quanto diacronicamente. Por isso, não é raro que os críticos se confundam entre si e falem de coisas diferentes quando acreditam fazer o contrário. Ninguém chega a lugar algum.

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Ainda pode-se mencionar aqueles grandes nomes que se estabeleceram indubitavelmente nos estudos literários, como Bosi, cândido, Bolle, Arigucci Jr. entre outros. Talvez eles possam ser bem-sucedidos na tarefa difícil, vasta, e por isso mesmo, atraente da crítica. Mas isso virou pretexto para que todos os que pretendem afetar alguma relevância em seus textos de crítica recorressem ao discurso da autoridade - o mesmo tanto combatifdo pelos empiristas europeus de séc XV-XVI. Então é só dizer qualquer besteira e citar qualquer nome renomado. Ad verecundam é a muleta preferida dos maus críticos.