Eu Diria Isso

27.9.07

Cena Final

Ao entrar em casa, olha ao redor de maneira religiosa. A sala, aquele velho sofá, as manchas no tapete, e todas as outras coisas com as quais viveu tanto tempo e, ao mesmo tempo, prestou tão pouca atenção. Lembra da vez que seu filho, ainda bebê, descobriu uma falha na pintura da parede e começou a descascá-la. Tudo isso ainda estava lá - sempre prometeu repintar aquela parede mas, no fundo, sabia que não ia fazê-lô. Só não sabia se era por preguiça, ou pela lembrança que lhe vinha a mente. Talvez fosse os dois. Talvez não importasse. É, não importa.
Passa pelo corredor repleto de fotos. De um tempo onde algo ainda fazia sentido. Algo ainda brilhava. Entra no quarto. Despe-se. Pela primeira vez na vida coloca a roupa suja no lugar de roupa suja. Ao perceber o fato, olha para cima e ri de maneira irônica.
Visita a cozinha como se nunca estivesse ali. Tudo parece novo, estranho, repulsivo até. Comer é a última coisa que passa pela sua cabeça.
Volta à sala. Senta em seu sofá, nu. Acende dois cigarros. Calmamente leva um a boca, enquanto deixa o outro a postos num cinzeiro. Os pensamentos vem e vão - futís, infrutíferos, prazeirosos e perniciosos - como a fumaça que entra e sai de seu peito. O pensamento É a fumaça que passa por seu corpo.
Ele agora a espera. Aquela que nunca falta, nunca erra. A única que mantém sua promessa desde o momento em que nascemos. Talvez até antes disso. Em forma de respeito - e não de súplica - um cigarro a aguarda. O presente perfeito. E ela há de chegar antes dele queimar.

26.9.07

e-tnografia

O peixe morre pela língua e todo mundo sabe disso. Por isso é preciso tomar muito cuidado na hora de abrir a boca pois por qualquer descuido a isca da linguagem fisga a gente sem nem ter percebido. O infeliz redator/editor desse artigo da Wiki nos dá um caso exemplar. Ao tentar exemplificar as cantigas de ninar do Brasil, deixa explícito destrambelhadamente seu preconceito mal-travestido de multiplicidade de pontos de vista:

Boi da cara preta

Boi, boi, boi
Boi da cara preta
Pega essa menina
Que tem medo de careta

Versão politicamente correta

Boi, boi, boi
Boi do piauí
Pega essa menina
Que não gosta de dormir

A reformulação da letra da cantiga pode até ser habilidosa, como se vê no trato com as rimas, mas explicita – como raramente vi antes – a discriminação recalcada no brasileiro. Ora, o que exatamente haveria no Boi da Cara Preta que pudesse ser considerado "politicamente incorreto"? É evidente que a "cara preta" do boi não se refere a nenhuma questão racial. Afinal, trata-se do imaginário fantástico infantil. E mesmo que houvesse ali alguma conotação similar, teríamos de lembrar que os bois têm raças próprias de sua espécie. Ou seja, a "cara preta" do boi não é uma ofensa, como provavelmente interpretou o editor do artigo. Ainda mais, o que haveria de diferente no "boi do piauí" que o faz não ser uma forma de preconceito? O boi não poderia ser do Maranhão, ou de Minas Gerais? A tentativa do redator de apresentar uma outra versão, "politicamente correta" e isenta de carga ideológica, revelou na verdade sua leitura da cantiga e, portanto, sua própria ideologia. Afinal, a ofensividade sempre está mais a cargo do leitor (ou ouvinte, expectador, de acordo com a situação!) do que do conteúdo em si.

9.9.07

Natureza Inconstestavel

As vezes é dificil. As vezes é divertido, e muitas vezes sai caro.

Por que nem sempre oque é, é de fato....

O Ser humano é egoista por natureza, uma natureza incontestavel....

Se tivese que escolher entre salvar a sua criança, a sua mulher, seus pais.... ou salvar a uma cidade inteira, qual escolheria ?

É tudo, tudo, tudo, tudo SEMPRE COMO SEMPRE FOI........ uma questão de pontos de vista.